Os bovinos de raça mirandesa podem vir a ser aliados da prevenção de incêndios florestais na região transmontana.
A ideia surge no âmbito de um projecto que vai ser candidatado ao INTERREG que se propõe combater os fogos recorrendo às pastagens das raças autóctones.
A iniciativa parte do Governo regional da Cantábria, em Espanha, e já conta com cinco parceiros: dois espanhóis, dois franceses e um português.
Em Portugal, o Instituto Politécnico de Bragança é o parceiro científico deste projecto transfronteiriço, através do Centro de Investigação de Montanha.
Marina Castro, professora de silvo-pastorícia no IPB e coordenadora da candidatura portuguesa, explica em que consiste o projecto.
“O projecto assenta em três pilares fundamentais: as raças autóctones ameaçadas pela extinção, os espaços naturais protegidos e a gestão silvo-pastoril. O que pretendemos com este projecto é encontrar modelos de gestão de territórios de montanha que têm uma dinâmica populacional muito negativa. A preocupação central reside na redução dos incêndios florestais através do uso dos efectivos das raças autóctones.”
A Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa está também envolvida na parte portuguesa do projecto, visto que a aposta se centrou nesta raça.
O secretário técnico, explica de que forma os animais podem contribuir para a redução do numero de incêndios.
“Na prática será, em vez daquilo que é tradicional, que é as pessoas irem com os animais para o lameiro e regressarem a casa, a vedação de extensões de maior dimensão, integrando lameiros, terras de campo, monte, e que seja valorizado o património e que os animais comam e destruam o monte, contribuindo para a diminuição do risco de incêndio.”
Para Fernando Sousa, este projecto pode trazer vantagens para os criadores e para os proprietários de terrenos.
“Permitindo rendimento aos proprietários das terras. Neste caso, as pessoas teriam menos encargos com a limpeza da floresta e tinham uma receita com a venda dos vitelos. Muitas vezes as pessoas já não estão perto dos seus terrenos, estão longe, perdem a noção dos marcos e já não tiram qualquer mais-valia do seu património.”
Este projecto represente um investimento de cerca de um milhão de euros para as cinco regiões europeias.
Os responsáveis esperam poder implementá-lo durante o próximo ano.
Escrito por Brigantia
2009/10/23 at 16:04
Vacas e cabras vão dar uma ajuda na prevenção de fogos
Projecto tem como objectivo diminuir massa de combustíveis acumulados no mato e floresta
Projecto que envolve Portugal, Espanha e França quer prevenir fogos florestais recuperando actividades como o pastoreio. Em Trás-os-Montes, as vacas de raça mirandesa podem ter papel fundamental.
De facto, as vacas mirandesas podem vir a ser uma das raças autóctones determinantes na prevenção dos incêndios florestais em Trás-os-Montes, mediante o aproveitamento para pastagens de zonas com carga de combustíveis susceptível de elevado risco de fogos. “Os animais podem contribuir para manter as florestas limpas, reduzindo também o recurso à limpeza com máquinas ou ao uso de químicos”, explicou Marina Castro, docente na Escola Superior Agrária de Bragança, um dos parceiros do projecto.
A iniciativa pode estar no terreno no próximo ano, se a União Europeia der luz verde a um projecto transfronteiriço que envolve a Escola Superior Agrária de Bragança (ESAB) e várias entidades de Espanha e França. Arlindo Formariz, produtor de bovino de raça mirandesa, em Caçarelhos (Vimioso) é adepto do projecto e considera que “não trará prejuízos” aos agricultores. “Se algumas zonas forem alargadas para pasto, certamente os incêndios vão reduzir, o grande problema da região foi o abandono da cultura do cereal, cujos campos estão cobertos de mato e vegetação e são um risco para os fogos no Verão”, justificou. No caso da mirandesa, o produtor considera que são animais resistentes “facilmente adaptáveis a qualquer solo e podem ter boa utilidade”.
A Escola Agrária quer estender o convite para participar aos pastores da cabra de raça serrana, um animal que mais facilmente pode penetrar em terrenos de difícil acesso ou com elevado grau de inclinação. “Vamos conduzir o gado para zonas que queremos proteger dos fogos, alargando as áreas de pastoreio a locais agora inutilizados, de certo modo, é um recuperar da transumância que ainda se pratica em algumas regiões do país, mas não aqui”, adiantou a docente da ESAB.
O projecto nasceu de uma ideia do governo regional da Cantábria, mas foi bem acolhido deste lado da fronteira, tanto pela Associação de Produtores de Raça Mirandesa como pela instituição de ensino. Marina Castro explicou que se trata de um investimento “importante”, uma vez que pode “reduzir” o risco de incêndio “de forma natural”, ao mesmo tempo que se preservam as raças locais.
Fonte: JN