“Se tomarmos o conjunto da população do IPB, cerca de sete mil almas que dispõe em média de um salário mínimo para gastar na cidade, isto corresponde em termos de afluxo financeiro directo a cerca de 100 fábricas com 70 funcionários cada uma”.
P:Qual é a situação actual do IPB?
R: Tenho o corpo docente mais qualificado no conjunto do ensino politécnico a nível nacional.
P: Com que base faz essa afirmação?
R: Digo isto porque tenho 40 % de doutores. O outro Politécnico que vem a seguir é o do Porto e tem abaixo de 20%. Nós temos mais do dobro, muito colado a ele está o Politécnico de Viana do Castelo, mas abaixo 20%. Felizmente o Norte está bem, neste aspecto. Este ano o Ministro da Ciência e Tecnologia no Orçamento de Estado, fez o cálculo do orçamento padrão em função do número de alunos e do histórico da instituição, e resolveu introduzir o factor qualidade que majorava ou minorava o orçamento das instituições. Nós tivemos a maior majoração a nível nacional. Esta majoração foi dada pelo factor qualidade, porque somos o politécnico mais creditado a nível nacional. Não tenho dúvidas do que estou a dizer.
P: Que balanço faz de 25 anos do IPB?
R: Começamos com cerca de 120 alunos, e um punhado de funcionários, hoje são 6200 alunos, cerca de 400 docentes e mais de 200 funcionários. O número de diplomados já ultrapassou os 10 mil. Ora, isto teve um impacto inigualável na região. Muitos dos nossos diplomados ocupam hoje funções em empresas e associações. O dinamismo que se consegui seria impossível se nós não existíssemos. Não é só o crescimento em termos numéricos, haveria um conjunto de empresas que não teriam capacidade de se instalar e de se desenvolver se não houvesse o instituto, por exemplo a Faurecia, grande parte dos quadros são do IPB.
P: Mas a empregabilidade na área da Educação está longe de ter sucesso.
R: O problema da Educação é uma realidade nacional e transversal, existe de Norte a Sul, não implica nada com o IPB.
P: Voltando ao impacto do IPB na região.
R: O impacto não se limita ao económico. O impacto que o IPB está a ter a nível cultural é imenso. Certamente concordará que muitas das actividades culturais e das infra-estruturas criadas para a Cultura em Bragança não teriam a sua existência, e o seu desenvolvimento, se nós não existíssemos. Não haveria quem consumisse essa cultura.
P: No entanto, não se vêem muitos jovens no Teatro Municipal nem no Centro Cultural.
R: O curso de artes tem um universo que andará à volta dos 80 alunos, se 10 ou 15 forem ao teatro não dão nas vistas. Não sei onde está a querer chegar! Acha que os jovens que vêm para Bragança são eunucos mentais do ponto de vista da Cultura? Nós estamos a falar de uma realidade nacional. Isso é apanágio só de Bragança? Está a falar de uma realidade que é portuguesa, em que a nossa juventude não gosta de consumir Cultura.
P: Mas há ligação entre o IPB e esses centros de Cultura?
R: Captar os jovens para a cultura é uma catequização que tem que haver a nível nacional. O IPB vai organizar com a Câmara Municipal espectáculos específicos, em que serão oferecidos bilhetes a baixo preço para os alunos, para os motivar. A Escola Superior de Educação tem protocolos com o Teatro Municipal para aproveitar todo o conhecimento existente. Se o instituto não existisse não haveria, com certeza, na cidade capacidade para ter instalado e sustentar os projectos culturais em marcha.
P: E a relação com o tecido empresarial é efectiva?
R: Nesse campo estamos a tentar uma grande inserção com o meio empresarial, com a missão de induzir o desenvolvimento regional. O IPB só por si induz dinamismo com o aporte de fluxos financeiros. Se tomarmos o conjunto da população do IPB – fazendo umas contas rápidas – são cerca de sete mil almas que dispõe em média de um salário mínimo para gastar na cidade – isto corresponde em termos de afluxo financeiro directo a cerca de 100 fábricas com 70 funcionários cada uma.
P: Então fim do IPB seria uma catástrofe para a cidade?
R: Seria do ponto de vista económico, mas também a nível cultural e social, pelo que o IPB representa em termos de suporte da cidade
P: Como estão a fazer a ligação às empresas?
R: É preciso estabelecer uma relação de pro-actividade com o tecido empresarial. Durante estes anos o IPB fez uma aposta fortíssima na formação do corpo docente, doutorou perto de 150 professores. Estivemos grande parte do tempo ocupados com a formação da massa critica. O que foi determinante para a pujança e para a afirmação nacional do instituto. Agora estamos a tecer uma politica de maior proximidade à região e às empresas. De diversos modos: com ligação aos próprios empresários no sentido de saber de que modo podemos ajudá-los a implementar projectos. Queremos ter uma grande proximidade em relação à formação dos nossos quadros. Estamos a desenhar um esquema em que iremos contratualizar com as empresas os quadros que mais precisam a curto e médio prazo. Vamos tentar formá-los à medida das próprias empresas.
P: Têm apostado nos chamados CET.
R: A nível dos Cursos de Especialização Tecnológica (CET) vamos contratualizar com as empresas, para saber quais são as necessidades, quais as competências que necessitam e assim criar cursos específicos para uma só empresa, que pode ter a duração de um ano. Isto é um alto qualitativo, eu posso fazê-lo, mas outras instituições não podem. E posso fazê-lo porque tenho corpo docente qualificado e jovem, com grande espírito de abertura.
Jorge Nunes, presidente da Câmara de Bragança
“A descentralização do ensino superior foi o mais relevante do pós 25 Abril”
“Mudou imenso a cidade ao nível da qualificação dos habitantes da região. No concelho de Bragança as pessoas têm em média habilitações académicas superiores às do país. Ao nível da própria economia também se notaram melhoramentos assinaláveis, criou muitos postos de trabalho ao nível da docência, muitos estudantes de fora da região vieram estudar, alguns acabaram por fixar-se cá, o que trouxe uma nova dinâmica. Tudo isto teve um impacto importante ao nível de movimentação económica, tanto nos serviços como no sector comercial, permitiu uma maior qualificação do comércio e das instituições. Ao nível da própria habitação obrigou a um incremento de construção, para arrendamento a jovens. Permitiu a fixação de quadros. Bragança só ganhou.
A descentralização do ensino politécnico por várias capitais de distrito foi a media mais relevante tomada após o 25 de Abril, e a mais saliente a nível do interior do país. Essa descentralização do ensino superior permitiu a um grupo de cidades assumir um novo papel. O impacto positivo é inegável.”
Vozes
Elvira Neto, funcionária do IPB há 25 anos
“Na cidade mudou tudo”
“Vi o IPB crescer. Há 25 anos, quando começamos na Rua 1º Dezembro foi mesmo o início com os preparativos para começar a fazer a instalação. Começamos em 1986 com quatro cursos, dois na Agrária e outros dois na Educação. Na altura era presidente da Comissão Instaladora o professor Lima Pereira, e nós fazíamos os preparativos para contactar pessoal. Alguns professores já estavam em Boston (EUA) a fazer o mestrado. Foi o arranque da instituição.
Na cidade mudou tudo. Era uma cidade pacata, não havia nenhuma instituição de ensino superior, uns anos depois veio uma avalanche de alunos. Em duas décadas passamos de 110 alunos para cerca de 6120. Surgiram novos bairros na cidade para alojar tanta gente, mais comércio, as mudanças nos transportes foram assinaláveis. Então o comboio demorava dois dias para chegar cá, não havia autocarros directos para várias regiões do país. Hoje há facilidade de transporte para todo o lado.
A instituição passou de quatro cursos para 60. O facto de ser uma instituição de ensino superior trouxe mudanças qualitativas, abriu os horizontes a quem cá vivia, permitiu que mais gente fosse para o ensino superior, porque antes eram obrigados a ir para fora da região, nem todas as famílias tinha capacidade económica para mandarem os filhos para fora, muitos ficariam pelo Secundário. Além de que fez com que outras vertentes se desenvolvessem, até ao nível das estradas”.
Dionísio Gonçalves, ex-presidente do IPB
“A instituição conseguiu um reconhecimento científico inigualável”
“Atingimos a barreira dos seis mil alunos, o que ainda ultrapassou as nossas expectativas iniciais, apesar de desde o início ter sido nosso objectivo ultrapassar os cinco mil alunos e criar uma grande instituição na região. Mas, claro que quando começamos há mais de 20 anos não conseguiam imaginar a dimensão, o desenvolvimento e a importância que o IPB tem hoje no contexto regional e nacional.
A instituição conseguiu um reconhecimento científico inigualável com a qualificação do corpo docente, o que tem sido assinalável. Durante vários anos o grande projecto foi o da creditação do corpo docente, houve um grande empenho neste aspecto. Esta creditação científica permitiu ao IPB ter um dos índices mais elevados de doutoramentos por parte do seu corpo docente, vamos já na barreira dos 140 doutores. O que permitiu um grande desenvolvimento da instituição e lhe permitiu que granjeasse credibilidade no contexto nacional e até internacional.
O instituto tem desenvolvido cada vez mais ligações com o tecido empresarial local, um caminho que considero deve continuar a ser reforçado. Outra aposta deverá ser a concretização de infra-estruturas em falta, como a Escola Superior de Tecnologia de Mirandela, deve apostar-se também na ligação a instituições de ensino superior estrangeiras”.
Tomás Figueiredo, docente da Escola Superior Agrária
“Em 1986 a viagem de comboio de Lisboa a Bragança demorou 13 horas”
“Trabalho no IPB há 22 anos. Vim no 1º ano lectivo para a abertura dos cursos. Era um desafio interessante porque representava uma mudança geográfica para mim, já que vim de Lisboa, e também um desafio porque nos dava uma expectativa de trabalho muito aliciante para a época, éramos jovens licenciados e havia a possibilidade de levar por diante algumas ideias que já tínhamos e outras que foram surgindo. Era pouquíssima gente, 10 professores e uns 40 alunos na Agrária.
O crescimento é um sinal da vitalidade do instituto porque conseguiu manter um ritmo de crescimento assinalável. Foi um sinal de grande inteligência de quem estabeleceu a estratégia de desenvolvimento do IPB. Criou-se um corpo docente qualificado, sem qualquer complexo pelo facto de seremos o local mais distante do sector de decisão, por seremos um politécnico e, portanto, termos dentro do sistema de ensino superior uma posição menos valorizada. Alguns constrangimentos acabaram por ser um estímulo.
Há 22 anos Bragança era uma outra cidade, que é difícil imaginar hoje. Os acessos eram complicados. A minha primeira viagem desde Lisboa durou 13 horas de comboio. Havia alguma falta de hábito em lidar com alguns aspectos comerciais e sociais que já eram comuns noutras cidades. Em 1986, Portugal entrou na União Europeia há aqui uma coincidência no sentido de que a mesma visão que nós possamos ter do país e das cidades do interior, que eu tive então, não era por estar em Bragança, mas num Portugal que ainda não estava ao nível que está hoje. O IPB estimulou a cidade, imagino eu, até para servir os estudantes e a cidade recebeu bem o IPB”.
Fonte: O Informativo
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